Creio que o Japão (e mais recentemente a Coréia) são
conhecidos no mundo todo pelo tempo que seus alunos passam estudando. Bem, eu
diria: tempo que eles passam dentro da escola, porque nem sempre eles estão
estudando. Aliás, creio que quando um brasileiro ouve dizer que uma criança
fica na escola de 08:30 às 16:00, ele automaticamente associa isso ao tempo de
estudo, pensando que a criança passa o dia todo atrás dos livros didáticos,
estudando matemática, japonês, ciências e todas aquelas matérias que já conhecemos.
Porém, qual não seria o seu espanto se você visse que os alunos japoneses (não
sei dizer os coreanos) não passam o dia todo com livros didáticos.
O que acontece é que eles têm
muitas atividades que, aqui são consideradas estudo ou parte dele e, as quais,
de repente, no Brasil, não seriam consideradas estudo. Uma matéria que os
alunos japoneses têm é a caligrafia. (shousha), onde aprendem técnicas
de shodou (caligrafia tradicional japonesa), que aliás, é uma belíssima
arte aqui no Japão, China, Coréia e outros países onde os ideogramas chineses
ainda são utilizados.
Eles também têm
outras atividades, como estudos gerais (sougou gakushuu), onde o tema é
livre e eles podem estudar o que quiserem, a matéria que mais gostam. Aliás,
esta matéria foi inserida no currículo das escolas japonesas há menos de 10
anos, se não me engano. Mas, até agora ninguém entendeu para o que que serve.
Outro dia fui numa aula desse tal sougou gakushuu
e fiquei pasma por 3 motivos:
1 – Crianças de 8
anos estudando sozinhas, sem ninguem ficar no pé.
2- Outras crianças,
da mesma classe, não fazendo absolutamente nada sem ser bagunça e ainda
atrapalhando os colegas.
3- E a atitude
passiva do professor, que não os repreendia em absolutamente nada.
Inconformada, ainda
perguntei pra uma aluna: -“Ei, você não deveria estar estudando agora?”
Adivinha o que ela
disse? – “Sim, mas não tô. Não tô a fim”.
Como eu não sou a
professora da turma e só vou lá de visita, não há nada que eu possa fazer, a
não ser ficar pasma.
Além de estas e
outras atividades, os alunos têm uma série de eventos durante o ano e, muitas
vezes, os horários de aula acabam virando horário de ensaio. Recentemente
tivemos um festival na cidade e, como os alunos iam participar o desfile, além
da banda da escola, eles passaram muitas horas ensaiando. Eu chegava lá para
dar aula e, cadê meus alunos? Ensaiando no pátio a escola.
Outra atividade
que toma muito tempo deles e o Undoukai (gincana esportiva) e, no
ginásio, o Taiikusai (Torneio Esportivo), além de festivais culturais,
como Bunkasai e outros. Ou seja, eles não ficam só sentados estudando e
escrevendo. Eles tem muitas atividades, as quais, muitas, considero
extremamente desnecessárias. Mas, eles fazem isso há séculos e, mesmo vendo que
hoje o mundo mudou e precisamos de outro tipo de alunos, eles continuam
insistindo no seu método antiquado.
Até meados da década de 90,
os alunos japoneses também tinham aulas aos sábados. Hoje, isso não existe
mais, o que ainda gera muita discussão. Na verdade, foi uma medida do governo
não só para tirar um pouco a carga dos alunos, mas principalmente, para que
eles passassem mais tempo com os pais em casa. Mas, quem disse que adiantou
alguma coisa??? O que os pais fizeram?? Mandaram as crianças para cursinhos
estilo juku (curso de reforço) e outras atividades, como piano, natação,
inglês, artes marciais, etc.
Já os estudantes do
ginásio, mal tem os fins de semana livres, pois estão sempre envolvidos em
atividades do Bukatsu (atividades extra-classe). Se participam de algum Bukatsu
esportivo, então! Por isso é muito comum você sair para passear nos fins de
semana, pegar um trem e ver o trem lotado de estudantes com seus tacos de
beisebol, armas de kendou, raquetes de tênis, etc. E, eles passam o dia todo
fora. São muitos os torneios e campeonatos municipais e regionais.
Agora, pegando
um pouco mais pesado, outro dia li uma tese de um japonês (pasmem!), que
criticava muito o sistema escolar aqui, dizendo que tudo que acontecia nas
escolas já era uma preparação para quando eles crescessem e fosse trabalhar em
fábricas e empresas. Essa coisa de se incentivar o tal do gaman,
(aguentar tudo sem reclamar) por exemplo, na opinião dele, seria apenas uma
espécie de lavagem cerebral, onde os alunos aprenderiam desde cedo que deveriam
obedecer apenasm aguentar tudo sem jamais reclamar nada. Assim, quando
chegassem na fase adulta e tivessem que entrar nas empresas, seria fácil
colocá-los para fazer longas jornadas de trabalho, como de 08:00 às 22:00 e,
fazer com que vivessem pela empresa ou fábrica.
Para ser
sincera, eu já tinha percebido isso há muito tempo. Porém, como sou estrangeira
e ocidental, eu penso de forma diferente dos japoneses em muitos assuntos. E,
quando você estuda para ser professor, você tem uma abordagem da Educação
completamenre diferente da que eles têm aqui. Então, muitas vezes achei que
fosse “coisa da minha cabeça ocidentalizada”. Mas, após ler os artigos escritos
por aquele japonês, eu tive certeza que estava na linha correta de pensamento.
Ocidental ou não. Porém, lógico e realista.
E você? O que pensa a
respeito? O que acha dessas atividades nos fins de semana? Acha que são boas
para as crianças ou as fazem cada vez mais ficar distantes dos pais?
Acha que o sistema japonês ajuda
ou atrapalha na formação do caráter da criança? Deixe seu comentário aqui para
podermos saber sua opinião a respeito.
Um abraço e até a próxima.